sábado, 17 de outubro de 2009


Caracterizar a filosofia, mais do que enunciar um conjunto de elementos, significa destacar aquilo que distingue a filosofia de outros saberes e constitui a sua especificidade.
Com as ciências, a filosofia partilha a racionalidade, o rigor, a exigência, a recusa da imediaticidade e a desconfiança em relação às primeiras impressões e aos sentidos brutos. Tal como o saber científico, a filosofia defende a investigação meticulosa, o trabalho em profundidade e rejeita a preguiça daqueles que julgam que pensar é um acto automático, espontâneo, algo que nos acontece e de que somos apenas os receptáculos.
A filosofia é autónoma porque não depende de nenhum outro saber. Os seus pressupostos não são impostos do exterior e por isso podem ser eles próprios questionados. Autonomia significa também, como insistia Kant, em pensar pela sua própria cabeça, sem tutores ou mestres que nos dominam as vontades e nos escravizam a pensamentos estandartizados.
A filosofia é histórica porque nenhum saber tal como nenhum homem pode ser alheio às suas circunstâncias. Imaginar que alguém possa pensar totalmente fora do seu tempo e da sua época é imaginar o filósofo como uma espécie de semi-deus a pairar acima dos outros homens. No entanto, se o saber filosófico é histórico isso não significa que ele possa ser ultrapassado ou ficar cristalizado no tempo. O saber filosófico é fundamentalmente um saber preocupado com o futuro e que, sem ignorar o passado nem o presente, pretende ajudar os homens a projectar-se em direcção à esperança.
A filosofia é universal porque é um saber de todos e para todos e tem como objecto de estudo o real na sua globalidade. Recordemos que as ciências têm também como característica a universalidade, mas no caso das ciências ela significa que as respostas dadas são válidas para todos, pelo menos num determinado período de tempo. Não podemos esperar da filosofia os consensos que existem entre os cientistas. Isso faz parte da especificidade da filosofia e transforma-a num saber incómodo que é capaz de fazer da incerteza e da plausibilidade um dinamizador da procura intelectual.
A filosofia é radical. Isto não significa que possamos esperar ver os filósofos a surfar ou a praticar outros desportos radicais. Também não significa que politicamente os filósofos tenham que ser revolucionários. A filosofia é radical porque não se limita a abordar superficialmente os assuntos mas investiga-os em profundidade. Ser radical é também não impor limites ao pensamento, não ter tabus ou sinais de proibição que nos impedem de questionar determinados assuntos delicados. Ser radical é não ser prisioneiro das conveniências e não nos acomodarmos a pensar apenas aquilo que, em certas circunstâncias, pode e deve ser pensado. A radicalidade é a marca que distingue a filosofia dos outros saberes, o elemento que denota a insatisfação permanente do filósofo, a sua ânsia permanente em saber mais e em quebrar todas as barreiras que queiram impor ao pensamento. A radicalidade mostra bem porque razão a filosofia só se pode fazer em liberdade.

3 comentários:

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