Não defendo a simplificação da filosofia, a sua redução a um pensamento esquematizado, cómodo, apropriado para qualquer situação. Penso, porém, que a filosofia pode e deve ser divulgada de modo a deixar de ser elitista, veículo intelectual e brinquedo que pertence a minorias que se julgam iluminadas. A filosofia não é, não tem que ser, um saber fossilizado, prisioneiro do passado e de fórmulas repetitivas. Respeitem-se os filósofos clássicos mas não os tratem como se fossem ídolos inatacáveis. Por serem antigos e clássicos são um óptimo alvo para exercermos neles o nosso espírito crítico. Não se filosofa pensando como Kant ou Descartes ou Hegel ou qualquer outro. Quando muito filosofa-se pensando com eles e a partir deles, entrecruzando perspectivas, não omitindo os argumentos menos conseguidos e as ideias armadilhadas. Não devemos sequer ter receio de pensar contra algum grande filósofo quando nele encontrarmos ideias e argumentos com os quais discordamos. Em filosofia nada é sagrado a não ser o respeito pela coerência e a insistência em pensar com liberdade, rigor e radicalidade.
Continuo a afirmar que a filosofia é indispensável mas reconheço que se pode perfeitamente passar sem ela, principalmente se o objectivo for deixar que as coisas aconteçam. É verdade que nem todos os homens podem ser filósofos mas defendo que é uma clara exigência da consciência tornar a filosofia acessível a todos, dando-lhes a possibilidade de exercerem a sua racionalidade crítica.
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