segunda-feira, 16 de novembro de 2009

- Hoje, vamos fazer a destrinça entre acontecer, fazer e agir - começou o professor
- Vamos fazer o quê? - perguntou o André
- Vamos distinguir entre acontecer, fazer e agir. Aparentemente, à primeira vista é tudo igual e a maior parte das vezes usamos as palavras fazer e agir como se fossem sinónimos. Porém, "nem tudo o que fazemos é acção.". Esta frase de Jesus Mosterín vai servir-nos de motor de arranque.
- Já cá faltava uma citação para comentarmos - lamentou-se o Rogério
- As citações só são importantes para despertarem os nossos próprios pensamentos. - o professor assumiu a sua pose doutoral - Há coisas que nos acontecem e das quais somos apenas as vítimas. Há coisas que fazemos sem delas termos consciência. Há ainda coisas que fazemos involuntariamente embora possamos ter consciência delas Por fim, há coisas que fazemos conscientemente, voluntariamente e intencionalmente. Só a estas coisas podemos com propriedade chamar acções. Deste modo, só os seres humanos efectuam acções porque agir pressupõe e implica consciência, vontade e liberdade. Qualquer acção é uma interferência no normal decurso das coisas.
- O que é que a liberdade tem a ver com a acção? - perguntou a Madalena
- A liberdade é o busílis da questão
- A liberdade é o quê? - preparou-se o André para escrever mais uma palavra esquisita no seu já repleto caderninho de bolso
- A liberdade é central em tudo isto. É a liberdade que nos distingue dos animais, é ela que está na base da auto-construção de cada homem. Ao agir, ao escolher entre várias possibilidades de acção, o homem escolhe-se e constrói-se.
- Voltemos aos elementos que caracterizam a acção - pediu o Jerónimo
- Falemos então da rede conceptual da acção
- De quê?
- Dos elementos caracterizadores e clarificadores da acção. São eles: o agente, o motivo, a intenção e a decisão que implica deliberação. Uma acção é sempre de alguém que tem razões que explicam aquilo que fez, tem um propósito e ponderou as consequências e as possibilidades. Se algum desses elementos da rede falha estamos perante um simulacro de acção, um acto falhado ou um equívoco.
- Há muitas coisas que fazemos por obrigação - comentou a Madalena
- Há vários tipos de obrigação: há obrigações externas, imposições a que não podemos fugir sob pena de sanções e há obrigações internas, morais que nós mesmos escolhemos e aceitamos. Estas últimas não anulam a liberdade mas estão implicadas nela e introduzem-nos nos domínios da responsabilidade. As acções exigem sempre responsabilidade. É isso que traduz a importância do agente, daquele que assume integralmente os seus actos.
- Gostaria de falar mais da liberdade - disse a Madalena - Não acredito que ela exista a não ser como ilusão Quem é que pode escolher aquilo que quer fazer?
- Essa discussão iremos tê-la numa próxima aula quando falarmos das condicionantes da acção e do determinismo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pode me distinguir os planos do acontecer , fazer e do agir? Pfv