quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Reflexão sobre os valores

Que valores subsistem num mundo complexo, aparentemente condenado a viver na instabilidade, num relativismo mais ou menos radical ou na intolerância? Às crises económicas, políticas e culturais, que alguns dizem cíclicas, acrescentam-se as crises de valores que geram desorientação ou despoletam movimentos tradicionalistas defensores da ressurreição urgente de valores considerados em vias de extinção. Retoma-se a discussão sobre a perenidade ou historicidade dos valores e como solução renova-se a tese de que os valores são bens em si mesmo, têm vida própria e são independentes dos homens que os atribuem e das coisas ou situações a que são atribuídos.
Considero que, mesmo que os valores do passado fossem melhores do que os nossos, não se pode simplesmente recuperar o passado ou regressar atrás no tempo. Transformar a questão dos valores num assunto de crença apenas pode contribuir para aumentar a intolerância. É necessária uma reflexão racional, crítica e radical sobre esse tema dos valores que ou é ignorado ou é banalizado ou convertido num discurso incompreensível e impenetrável. Cabe à filosofia protagonizar e promover uma discussão ampla e profunda sobre a importância dos valores nas nossas sociedades contemporaneas e sobre a necessidade de os alicerçar não sobre a tradição mas sobre o diálogo.
Vivemos em sociedades multiculturais e isso obriga-nos a escolher a tolerância como um valor de referência e a evitar clivagens e posições fundamentalistas. A tolerância não pode porém justificar uma posição de indeferentismo moral. Têm que existir valores claros e sólidos que norteiem a nossa vida. Esses valores devem ser escolhidos por nós e não impostos de fora.
Podemos viver comodamente e satisfatoriamente com valores descartáveis. Podemos ser como os girassóis virando-nos para o sol em adoração silenciosa, sem vontade própria ou tentarmos isolarmo-nos do mundo, acreditando que somos o centro de tudo e mudando de valores de acordo com o nosso estado de espírito do momento. Podemos escolher mas somos definidos pelas nossas escolhas. Por isso se torna imprescindível que as nossas escolhas sejam verdadeiramente nossas e feitas de acordo com um conjunto de valores e de princípios que consideramos fundamentais.
A nossa acção, aquilo que somos, deve ser guiada por um projecto e esse projecto constrói-se em volta de um núcleo de valores que são o seu fundamento. Se esse núcleo de valores se alterar profundamente ou demasiado depressa caminhamos desamparados.
Os valores não são algo que se tem como um bem material qualquer, uma caneta ou um jogo de computador, mas são algo que nos ajuda a ser. Os valores comandam as nossas preferências e determinam quem somos ou quem queremos ser.
Sem valores ou com valores de ocasião, a nossa vida não tem sentido, propósito, transforma-se numa errância labiríntica num deserto que é o nosso interior. Com valores importados, aceites passivamente, a nossa vida uniformiza-se e acabamos por ser convertidos em animais de rebanho a reagir da mesma forma aos mesmos impulsos.
A questão dos valores insere-se assim na questão fundamental "quem somos?" e só pode ser respondida quando formos capazes de nos assumirmos como seres racionais, livres, autónomos e problematizadores. Se, por qualquer razão, desistirmos da racionalidade, da liberdade, da autonomia ou da inquietação própria de quem não tem certezas absolutas e eternas, a questão dos valores deixa de ser importante e podemos mesmo afirmar que os valores são inúteis acessórios no mundo de hoje.

Um comentário:

Anônimo disse...

é este que sai no teste stor? loll

Daniela Monteiro 10ºL